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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Arte computadorizada

Os trabalhos expostos integram a primeira exposição internacional de arte processada pelo computador equipado com plotter, promovida pela California Computer. Figura na mostra um trabalho nosso, em equipe com o prof. Jorge Moscati - ``Derivados de uma imagem'' - realizado em 1969 no computador digital IBM 360/44 (não dotado de plotter) da USP.
Num breve histórico, provavelmente incompleto, a partir do Simposium sobre Arte e Computadores, realizado no Tama Fine Arts College, Tóquio 1967, a manifestação pioneira é ``Cybernetic Serendipity'' organizada por Jasia Reichardt em 1968 no IAC de Londres e seguida pela mostra Mind-Extenders apresentada no fim do mesmo ano, pelo Museum of Contemporary Crafts, em Nova York. No ano seguinte, o Museu de Brooklyn, em colaboração com o grupo E.A.T., organizou a mostra Some More Beginnings. Novas Tendências 4, sob a direção de Bozo Bek, realizou em maio do ano passado, em Zagreb, uma exposição e um importante seminário subordinados ao tema ``Computadores e Pesquisas Visuais''. Para este ano, estão programadas várias exposições, entre elas: ``Computer Graphic 70'' na Brunel University de Londres, promovida pela Computer Arts Society. As primeiras experiências de artistas argentinos serão apresentadas pelo Centro de Arte y Comunicación dirigido por Jorge Glusberg. Por ocasião da ``Fall Joint Computer Conference'', a ser realizada em Las Vegas, haverá uma mostra de música, arte visual e teatro em computadores.
Aqui no Brasil, embora o primeiro trabalho com computador de nossa autoria, em colaboração com o prof. Moscati, tenha sido realizado em 1968, é esta a primeira mostra de arte com computador. É, também, a primeira da América Latina. A arte computadorizada, enquanto metodologia, se identifica, em última análise, com as tendências da arte contemporânea chamadas, genericamente ``construtivas'' e que visam à quantificação e à digitalização dos elementos da obra de arte.
Na arte digital (dígito = número) a mensagem é processada numericamente, alcançando um grau superior de precisão. Exemplos históricos de arte digital são Seurat, o cubismo analítico, o suprematismo, o neo-plasticismo, todo o construtivismo e a arte concreta. Na arte digital a grandeza física é representada por um número, em termos estatísticos probabilísticos que não excluem o recurso acaso.
O desenvolvimento da arte digital tem relação direta com a industrialização, com a criação da linguagem de máquina e a linguagem artificial, tão freqüente na semiologia gráfica. A esse propósito, conviria investigar em que medida a complexidade do fenômeno perceptivo inerente à mensagem artística não é responsável por elementos ambígüos característicos da linguagem natural, que minam a homogeneidade e a regulamentação minuciosa da terminologia da linguagem artificial. De contradições desse gênero deriva, provavelmente, a necessidade da atividade artística, não substituível pelas soluções apenas técnicas da engenharia da comunicação.
Neste breve, brevíssimo texto podemos afirmar, talvez dogmaticamente, que a arte digital corresponde mais satisfatoriamente aos problemas técnicos da demanda oriunda da evolução tecnológica e da situação cultural produzida pelo crescimento demográfico e pelo fenômeno dos grandes aglomerados urbanos (metrópoles e megalópoles), da diminuição das distâncias físicas e do desenvolvimento das telecomunicações.
A utilização do computador, portanto, pode ser considerada no âmbito da arte digital, iniciada no Brasil pela arte visual concreta, no fim da década de quarenta, e que apresenta na década de cinqüenta e sessenta, o seu maior desenvolvimento e apogeu, influenciando outras artes, notadamente a poesia, e coincidindo com o maior índice de industrialização do país.
Atualmente, nas condições gerais da segunda revolução industrial, os processos de programação e digitalização são bem mais sofisticados e pressupõem a utilização de instrumentos mais eficazes, como o computador. Esse não passa de um instrumento que pode realizar qualquer desenho em menor tempo e maior precisão. Por isso mesmo, esse poderoso instrumento pode servir, também, à mais misoneista das atitudes culturais. O seu uso em traduções de formas tradicionais pode ser discutível. É como usar todos os recursos da eletrônica moderna para executar uma canzonetta napolitana, que será sempre melhor se tocada com os dedos no violão. O uso do computador adquire particular importância para as tendências que pesquisam na arte métodos heurísticos. Nesses casos a rapidez de cálculo e das decisões de lógica podem fazer economizar uma vida. Com efeito, às vezes o estudo das variáveis de uma idéia (estrutura ou meta-estrutura da mensagem artística) pode levar anos de trabalho árduo, quando bastaria uma programação inteligente para resolver esse problema em poucas horas, com o auxílio do computador. O uso do computador na arte, e na crítica de arte também, abre perspectivas imensas suscetíveis de atender a alguns dos anseios mais profundos da humanidade, proporcionando a almejada arte ``auto-consciente'' (C. Alexander), interdisciplinar e operativa.

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